Pequenas celebrações [Papo de Pai]

Por Rafael Alves
Ontem, dia 18, foi aniversário da Alice.

Eu nunca gostei muito de celebrar aniversários. Sempre achei a comemoração meio sem sentido. 

Mesmo quando eu era criança já achava esquisito todo mês ter uma ou duas festinhas na sala de aula. Mas naquela época eu não costumava pensar muito a respeito das coisas, e tudo bem.

A medida que fui envelhecendo, meu descaso pelas comemorações foi ficando mais evidente. Quanto menos coisas tivessem programadas pro dia, melhor eu me sentia.

Acho que a única exceção foi meu aniversário de 30. Não por ser um número redondo, mas porque estávamos esperando a Alice. Acabei usando a data como desculpa pra fazer um “chá de bebeR”. Ganhei toneladas de fraldas e bebi pela minha recente paternidade em um churrasco com os amigos. 

Um dia memorável mas, como esperado, insuficiente pra me fazer sentir a transição pro estado de pai.


Um mês e meio depois a Alice nasceu. Burocraticamente, no dia 18. Tá lá nos documentos da maternidade, na carteira de identidade dela, ou no cartório: dia 18 de outubro.


Como todo mundo sabe, apesar da Alice ter dois anos, eu não tenho exatamente um bebê de dois anos em casa. 

Quanto alguém fala sobre crianças de dois anos, existe a expectativa de um pacote de coisinhas. Que corra, mesmo que meio desengonçado. Que fale, mesmo que poucas coisas. Que entenda o mundo ao redor. Que expresse seus gostos e desgostos. Que brinque com seus animais de estimação, etc. 


E tá aí mais um motivo pra eu não gostar de aniversários, porque esse número sempre vem atrelado a expectativas de desenvolvimento, mesmo depois de velhos. E apesar de eu ter paciência e vontade de explicar cada marco da Alice pros outros (sim, eu gosto de falar sobre isso, pode perguntar a vontade), minha intenção é que a Alice cresça sem pressão, e se livrar do peso da idade resolve.

Eu acho que as pessoas “normais” já tem muita pressão. Com 20 tem que estar na universidade, com 25 tem que ter emprego, com 30 tem que ter casado, com 35 tem que ter filho. E infelizmente muitas pessoas se deixam atingir pelos padrões sociais e acabam vivendo coisas que não tem vontade de verdade, ou que nunca pensaram a respeito, simplesmente porque é o que se espera de quem “anda nos trilhos da normalidade”.

Admito que não era exatamente desse jeito que eu imaginava a Alice se livrando dos paradigmas sociais, mas que dá um conforto saber que essas perguntas são irrelevantes pra ela, dá.


Mas voltando as datas, penso que outras coisas podem ser categorizadas como “marcos” pra gente. Por exemplo:

19/10 – um dia depois do parto, nasceu a nossa “Alice de verdade”, já que foi só no dia seguinte que nos falaram que ela ia ficar na UTI porque tinha convulsionado (e a gente ainda nem sabia exatamente o que tava acontecendo).

13/11 – dia em que a Alice sobreviveu à sua primeira cirurgia, depois de termos escutado que “ela pode morrer” quando perguntamos o que podia acontecer.

05/12 – dia em que paramos de encarar o quartinho vazio porque finalmente levamos a Alice pra casa pela primeira vez.

26/03 – foi quando a Alice comeu algo sólido pela primeira vez na vida, e foi muito bem! A gente nem fazia ideia de que isso era o começo da nossa empresa, heheh.

02/06 – é aniversário da retirada do gesso, e podemos comemorar o sucesso da recuperação da Alice, que hoje tem um fêmur e um acetábulo totalmente funcionais e capazes de realizar qualquer movimento.


Enfim, os dias estão aí, um após o outro.

Nosso planetinha azul continua sua jornada insignificante ao redor da esfera flamejante que nos ilumina todos os dias.

E se nós dermos menos importância pros aniversários burocráticos e, ao invés disso, começarmos a valorizar outras conquistas?

Se pensar bem, um pouco disso já está acontecendo. É só perceber o facebook oferecendo pra compartilhar posts antigos, do mesmo jeito que o timehop ou outros apps também fazem. O bom disso é que damos mais valor às pequenas coisas que nos fazem bem. 


No começo desse mês, dia 07/10, fez um ano do primeiro sorriso da Alice. Nesse dia reparamos, meio por acaso, que ela sorria quando alguém dava tchau. Desde então todos os dias teve tchau.

No dia 11, domingo passado, a Alice deu um high five pela primeira vez. É super recente, e pra muita gente nem deve ser grandes coisas, mas é o que estamos celebrando atualmente. Agora além de tchau, todo dia tem high five!


 

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